23/12/08
20/12/08
Deixe aflorar toda sua doçura
Às vezes, fico me perguntando porque é tão difícil ser transparente...
Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros.
Mas ser transparente é muito mais do que isso.
É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que a gente sente...
Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que insistimos tanto em nos empenhar para levantar...
Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde! Mas infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a fragilidade humana.
Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam do mais profundo de nosso ser... Preferimos nos perder numa busca insana por respostas imediatas a simplesmente nos entregar e admitir que não sabemos, que temos medo!
Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê a sensação de proteção...
E assim, vamos nos afogando mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos...
Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado...
Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar... doçura, compaixão...
a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos... daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar àqueles que mais amamos!
Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor revidar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar do que simplesmente dizer: você está me machucando... pode parar, por favor!?....
Porque aprendemos que dizer isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro. Quando, na verdade, se agíssemos com o coração, poderíamos evitar tanta dor, tanta dor...Sugiro que deixemos explodir toda a nossa doçura! Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencíveis...Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto... Que consigamos docemente viver... sentir, amar...
Rosana Braga
Rosana Braga
19/12/08
Coragem...
Espaço latente, possibilidade de gostar, verdade do meu sentir...
Corpo pesado, imaginação insuportável...
Vontade de dizer, recear a forma como explicar, palavras abrigadas sem razão...
Também o meu ser a dizer que sim, a voz que não sei se quero ouvir...
Rosto quente que transparece de vergonha, o cair que para mim não tem solução...
Eu, e aquele segredo que conto para mim mesma...
Está escuro aqui Amiga...
Não sei como iluminar a projecção directa de te falar...
Tento agarrar.me á fragilidade que me lança nas palavras murmuradas...
Junto-me ao apelo que só por mim é criado...
Atraso frases completas....
Grito com o olhar...
e na verdade tudo isto porque....
Está escuro aqui, Amiga...
Perdi-me
15/12/08
Paisagens, quero-as comigo
Paisagens, quero-as comigo.
Paisagens, quadros que são...
Ondular louro do trigo,
Faróis de sóis que sigo,
Céu mau, juncos, solidão...
Umas pela mão de Deus,
Umas pela mão de Deus,
Outras pelas mãos das fadas,
Outras por acasos meus,
Outras por lembranças dadas...
Paisagens... Recordações,
Paisagens... Recordações,
Porque até o que se vê
Com primeiras impressões
Algures foi o que é, No ciclo das sensações.
Paisagens...
Paisagens...
Enfim, o teor Da que está aqui é a rua
Onde ao sol bom do torpor
Que na alma se me insinua
Que na alma se me insinua
Não vejo nada melhor.
Fernando Pessoa
13/12/08
A Criança que pensa em fadas...
A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadas.
Age como um Deus doente, mas como um Deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro
Age como um Deus doente, mas como um Deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro
Pensamento...
12/12/08
"Embora doa"
É a dúvida que resta que me leva a perguntar
Qual papel será o meu? O de quem nada faz
Embora doa, nada fiz para mudar
Embora doa, nada vai mudar
E revemos nas imagens que não passa de um esboço
Escolhem os senhores da guerra os motivos a seu gosto
Embora doa, nada fiz para mudar
Embora doa, nada vai mudar
Porque nada surpreende, já vivemos com o medo
Quem nos chama a razão? Ao som de armas adormeço
Embora doa, não me faz perder o sono
Embora doa...
Escorre sangue pelo ouro em directo na TV
Explode a carne em mãos de quem nada fez
Embora doa, não me sujo desse sangue
Embora doa, ha sempre outro canal
É a dúvida que resta que me leva a perguntar...
Klepht
Qual papel será o meu? O de quem nada faz
Embora doa, nada fiz para mudar
Embora doa, nada vai mudar
E revemos nas imagens que não passa de um esboço
Escolhem os senhores da guerra os motivos a seu gosto
Embora doa, nada fiz para mudar
Embora doa, nada vai mudar
Porque nada surpreende, já vivemos com o medo
Quem nos chama a razão? Ao som de armas adormeço
Embora doa, não me faz perder o sono
Embora doa...
Escorre sangue pelo ouro em directo na TV
Explode a carne em mãos de quem nada fez
Embora doa, não me sujo desse sangue
Embora doa, ha sempre outro canal
É a dúvida que resta que me leva a perguntar...
Klepht
11/12/08
...
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís de Camões
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